Desde que cheguei que me pediram várias vezes para contar a minha história e a minha experiência. Tal aconteceu sempre que tive de pedir documentos (título de residência; cartão de saúde) ou acesso a medidas de proteção especiais. Muitas vezes, não me sentia bem porque tinha de tornar a passar por memórias difíceis e tristes que me faziam sofrer e, em algumas situações, não me apetecia contar coisas pessoais a estranhos. Ainda assim, sabia que explicar bem a minha história podia ser útil para receber proteção, por isso pedi a uma pessoa que conheci e em quem confiava para me ajudar com a descrição da minha história e a relatar os aspetos mais importantes.

Quando contas a tua história para fins práticos, tenta ser o mais detalhado possível para que percebam quem és e para que ativem as medidas de proteção adequadas. Verifica que os teus detalhes são escritos como deve ser nos vários procedimentos.

Os profissionais da instituição de acolhimento disseram-me que, em alguns casos específicos, as crianças têm direito a proteção especial. Por exemplo, alguns dos meus amigos eram refugiados e, de acordo com a Convenção de Genebra, tinham direito a medidas de proteção especiais. Outros jovens que experienciaram coisas muito más em casa, ou na viagem, contaram aquilo por que passaram e receberam proteção especial. Saber isto e conseguir uma proteção especial foi muito importante para verem os seus direitos reconhecidos e serem melhor protegidos de qualquer forma de violência, abuso ou tráfico.

Informa-te e explica bem a tua situação porque podes ter direito a proteção especial enquanto refugiado, bem como em casos como os de abuso ou exploração.

Quando cheguei ao destino, senti-me perdido e não sabia exatamente onde estava nem para onde ir. Por um lado, precisava de garantir as minhas necessidades básicas, como encontrar um sítio onde ficar ou conseguir comida. Por outro lado, queria perceber onde estava e quais as regras da minha nova realidade que podiam ser diferentes da minha cultura de origem. Assim, tentei construir um “mapa” para me orientar na minha nova situação e ser capaz de melhor responder às minhas primeiras exigências.

Faz um “mapa” da tua nova situação para te orientares e mantém presente que as regras nesta nova realidade cultural podem ser diferentes das do teu país.

Algumas pessoas receberam-me quando cheguei, mas eu não sabia a língua delas e foi difícil para mim comunicar. Não ser capaz de compreender as outras pessoas e de me expressar, fez-me sentir fraco. Felizmente, havia um homem do meu país que era mediador cultural e que falava a minha língua. Falar com ele ajudou-me a receber informações básicas para preencher as minhas primeiras necessidades e ainda aprender as palavras essenciais da nova língua. Também frequentei cursos para aprender a língua e os certificados que recebi no final foram muito úteis quando procurei trabalho.

Tenta aprender a nova língua o mais rápido possível pois é uma ferramenta muito importante para comunicar e aumentar as oportunidades para uma melhor inserção na sociedade.

Quando cheguei ao novo país, senti-me desorientado e perdido.

Era tudo tão diferente e estranho. Mas consegui!

Muitas pessoas fizeram-me perguntas que, no início, não percebia muito bem, mas depois foi mais fácil com a ajuda de uma pessoa que me apoiou na tradução. Sentia receio de falar com as pessoas porque, muitas vezes, não me sentia bem-vindo.

Para além disso, não podia demonstrar a minha idade porque tinha perdido os documentos durante a viagem. Felizmente, fui reconhecido como menor através de testes médicos e consegui comida e um sítio onde dormir.

Conheci uns rapazes do meu país que tinham passado pela mesma viagem e ficámos unidos para nos apoiarmos e darmos força uns aos outros.

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