Quando parti, foi a primeira vez que me separei da minha comunidade e, como tal, senti-me sozinho e desprotegido. Felizmente, os jovens que conheci durante a viagem tornaram-se a minha nova família por algum tempo. Falava com eles sobre várias coisas, trocávamos informações e explicávamos os nossos planos uns aos outros. Claro que foi muito importante perceber quem era realmente amigo e quem tinha outras intenções e me aconselhava com malícia. Conhecer e partilhar esta experiência com estes bons amigos ajudou-me a ter a coragem para enfrentar a situação de incerteza em que me encontrava. Também me ajudou a dar um significado a esta desafiante situação.

Tenta fazer amizades com jovens que estejam na mesma situação que tu, mas tenta perceber bem quem são. Isto pode ajudar-te a estar mais orientado e apoiado.

O passaporte, um documento que quase nunca vira antes, tornou-se de extrema importância durante a viagem. Felizmente, eu tinha um passaporte comigo para mostrar quem eu era e que tinha menos de 18 anos, de modo a conseguir aceder a diferentes formas de apoio e aos meus direitos enquanto criança, por isso certifiquei-me de que não o perdia. Infelizmente, a dada altura da viagem deixei de o encontrar. Nessa altura senti-me muito desprotegido e ansioso e tive de enfrentar situações muito difíceis. Com esta experiência experiência, compreendi que é importante ter um documento para conseguir apoio mas também para a minha existência ser reconhecida pelos outros. Tem cuidado para não perderes o teu passaporte ou outro documento que possa comprovar a tua identidade e idade.

Mantém-no seguro, esse documento pertence-te. Ninguém te deveria pedir os teus documentos, a não ser as autoridades de proteção de crianças e a polícia. Se não tens um, deves tratar dele o mais cedo possível.

Depois de iniciar o meu percurso de partida, percebi que estava pouco informado sobre a viagem em si e o local onde queria chegar. Saber mais ter-me-ia ajudado. Durante a viagem fiz perguntas a diferentes pessoas e tentei sempre perceber onde estava. Apercebi-me de que me sentia melhor quando dizia onde estava a alguém em quem confiava. Isto ajudou-me a sentir um pouco mais seguro.

Recolhe informação contínua e atualizada, de fontes seguras, para saberes sempre onde estás durante a viagem e tenta passar esta informação a pessoas de confiança.

Ainda que na minha aldeia não fizesse diferença, ser identificado como menor (pessoa com menos de 18 anos de idade) na Europa implica receber proteção especial, uma vez que os direitos e normas para as crianças são diferentes das dos adultos, de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. Eu não tinha a certeza se queria declarar que tinha menos de 18 anos. Mas, mesmo que, por vezes, tenha sido tratado como um migrante pela polícia e outras autoridades, compreendi que demonstrar que tinha menos de 18 anos podia ser conveniente para ser mais protegido e para ter acesso aos meus direitos.

Se tiveres menos de 18 anos, tens direito a receber mais proteção do que os adultos na Europa.

oA viagem que imaginei era muito diferente da real: as condições eram desanimadoras. Às vezes, tinha medo porque pensava que o meu futuro não estava nas minhas mãos e que não havia nenhuma alternativa. Estas situações que escapavam ao meu controlo eram as que receava mais e que me faziam sentir muito vulnerável, até porque pessoas desconhecidas podiam aproveitar-se da minha situação. Nesses momentos, quando não tinha hipótese de controlo ou de escolha, tentei continuar calmo e manter o pensamento positivo, recordando os conselhos que a minha família e amigos me deram quando parti. Mesmo nos momentos difíceis isto resultou e foi uma forma de tornar a ligar-me à minha força interior. Aprendi que é muito importar tentar concentrar-me naquilo que, na minha vida, eu consigo ter controlo.

Manteres-te calmo e confiante sobre ti próprio e sobre o teu futuro é muito importante, mesmo em situações em que sintas que tens menos controlo sobre o que te está a acontecer.